sábado, 9 de março de 2013

Mulheres trabalhadoras e os desafios no campo



Os agricultores familiares estão enfrentando dificuldades com a seca. Mas a realidade se estende para as mulheres, agricultoras, apicultoras, artesãs e de diversas outras atividades desenvolvidas no meio rural. Esse é um ponto que tem sido discutido pelos grupos de mulheres acompanhados pelo Centro Feminista 8 de Março.
De acordo com Conceição Dantas, a atual realidade é a de que os pobres estão ficando mais pobres e os ricos estão ficando mais ricos. “Acompanhamos 40 grupos de mulheres no campo e os relatos que ouvimos são de que se uma vaca vale mil reais, em uma época dessas, ela está sendo vendida por 200 reais, devido à urgência, à necessidade se manter a família”, afirmou.
A solução, segundo a feminista é que sejam implantadas políticas públicas que venham a auxiliar as mulheres, com ações concretas. “As pessoas estão vindo do campo para a cidade em busca de água. Se tivermos água e infraestrutura, com ações concretas, as coisas funcionarão, pois não adianta ser contra a seca, tem que construir políticas para se adaptar a ela”, continuou.
Essas políticas, segundo ela, vão desde o auxílio-creche, a construção de cisternas nas comunidades rurais, abastecimento de água nessas cisternas, programas sociais, entre outras ações. “Temos mulheres que trabalham com beneficiamento de polpa de frutas, apicultura, caprinocultura, artesanato, produção nos quintais, pesqueiras, entre outras atividades. O importante é que elas participam da renda das famílias”, destacou.
Conceição Dantas disse ainda que, a partir dessas atividades, algumas mulheres chegam a ter rendas maiores que a dos maridos, mas que no momento estão em situação difícil, principalmente as que trabalham com fruticultura e apicultura. “Elas estão se virando com programas sociais”, concluiu.
A agricultora, coordenadora das mulheres trabalhadoras rurais do sindicato da Lavoura de Mossoró e vice-coordenadora do grupo de mulheres da Federação dos Trabalhadores em Agricultura no RN (FETARN), Graça Ferreira, afirmou que nos últimos dois anos, tem havido dificuldades para as mulheres do campo. “Até projetos como o Apoio Mulher, que é repassado pelo Incra não está sendo executado. O projeto visa o apoio de três mil reais para o auxílio no início da produção, seja ela qual for”, destacou.
As mulheres, segundo Graça Ferreira, tem se destacado na agricultura com a questão das hortaliças, inclusive com a participação na feira agroecológica, além da fruticultura. “A feira agroecológica partiu de um projeto das mulheres trabalhadoras rurais”, disse.
Graça Ferreira destacou que o perfil das mulheres do campo tem mudado nos últimos anos. “Há cerca de 20 anos, a mulher das comunidades rurais eram domésticas, hoje elas próprias já assumiram esse perfil de trabalhadoras rurais. Essa questão causava problemas até relacionados à aposentadoria, pois não tinham como se identificar em alguma profissão, e hoje, algumas já são inclusive chefes de família”, acrescentou.
Segundo ela, ainda precisa melhorar, principalmente na questão do combate à violência, para que elas passem a denunciar os maus-tratos. “Isso ainda é um tabu, infelizmente, pois elas não têm coragem de denunciar, muitas não têm nem interesse. Mas existe sim o trabalho de conscientização, para que elas possam avançar também nesse sentido”, concluiu Graça Ferreira.
Gazeta do Oeste
Por Monalisa Cardoso em 08/03/2013 às 08:24

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