Brasília
– Em entrevista concedida ao jornal Correio Braziliense (edição deste
sábado, 16), o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
Marcus Vinicius Furtado Coêlho, define como principais metas de sua gestão a
defesa do cidadão e a participação da entidade em causas importantes para a
sociedade, como a reforma política. A entrevista é assinada pelo jornalista
Diego Abreu.
Nela, o
presidente reafirma que a Ordem "não deve ser comentarista de casos, mas
protagonista de causas", e lembra sua ida ao Supremo Tribunal Federal,
onde pediu ao presidente da Corte, Joaquim Barbosa, e ao ministro Luiz Fux, que
priorizem o julgamento da ação na qual a OAB pede o fim do financiamento de
campanha por empresas. "É chegada a hora de criarmos um sistema de
eleições limpas", sugere.
A seguir
os principais trechos da entrevista.
Correio –
Quais desafios o senhor terá que superar como presidente da OAB?
Marcus
Vinicius – A OAB
possui duas missões complementares. A primeira é cuidar do direito do cidadão
de ter um processo judicial justo, para que ele seja respeitado. Criamos a
Procuradoria Nacional de Defesa das Prerrogativas dos Advogados. Ela tem um
procurador-chefe e terá advogados contratados por meio de testes seletivos,
para defender os advogados e cidadãos que tiverem violadas as suas
prerrogativas. A segunda missão é o protagonismo de causas coletivas. A Ordem
não deve ser comentarista de casos. Não é nosso papel fazer pré-julgamentos ou
antecipar decisões judiciais sobre casos concretos específicos. Devemos ser
protagonista de causas.
Correio –
A OAB vai priorizar quais causas?
Marcus
Vinicius – Eu
destacaria duas: a primeira é a reforma política, a partir de um sistema
eleitoral em que o abuso do poder econômico não exerça tanta influência como
atualmente. Se a sociedade brasileira - a OAB teve papel importante - criou a
Lei da Ficha Limpa, é chegada a hora de criarmos um sistema de eleições limpas,
com financiamento democrático de campanha. Outra bandeira é a simplificação dos
tributos no país. Temos um sistema tributário oneroso ao contribuinte, que
distribui de forma inadequada entre os estados e municípios o produto
arrecadado da nação, o que acaba atrapalhando o progresso do Brasil. Vamos
lutar também pelo piso do advogado empregado.
Correio –
A Ordem tem uma ação no STF que pede o fim do financiamento de campanhas por
empresas...
Marcus
Vinicius – Como
um dos primeiros atos de nossa gestão, tivemos um audiência com o relator desta
ação, ministro Luiz Fux, ocasião em que solicitamos que ele desse preferência à
ação que a OAB moveu contra o financiamento de campanhas por empresas. Ele
revelou publicamente que pretende julgar o caso no primeiro semestre deste ano,
porque, se houver um resultado favorável à ação da OAB, já teria validade para
as eleições de 2014.
Correio –
Vai ser preciso que o Supremo, mais uma vez, assuma frente do Legislativo?
Marcus
Vinicius – O STF
acaba sendo convocado pela sociedade diante de uma certa morosidade na
implementação das reformas necessárias ao país. Nesse caso, temos um princípio
republicano, que é o homem e o voto. Empresas não podem ter partidos políticos.
São entes para fazer negócios no mundo capitalista. Não podem ter uma opção
político-partidária.
Correio –
Como o senhor vai se posicionar em relação ao projeto que extingue o Exame de
Ordem?
Marcus
Vinicius – Tenho
defendido um diálogo de alto nível com os Poderes da República, pautado na
transparência e no respeito à atividade pública. Queremos demonstrar ao
Congresso a importância do Exame de Ordem para a proteção da sociedade, porque
o cidadão não pode ser punido em ser defendido por alguém que não tem
conhecimento jurídico sequer para passar no exame. Nos esforçaremos também para
que as defensorias tenham autonomia financeira, orçamento suficiente e mais
quadro para que os necessitados sejam atendidos.
Correio –
O senhor defende a eleição ireta para presidente da OAB?
Marcus
Vinicius – Na
campanha, assumi o compromisso de ser imparcial nessa questão, para que os prós
e contras venham à tona. Há quem ache que os estados menores terão menos
importância na OAB. Outros já propõem que, nesse caso, teríamos eleição direta
pelo voto federativo, em que cada estado valeria um voto. São muitas teses em
discussão. Temos um eixo programático que trata da revisão do sistema eleitoral
da OAB, que passa pela discussão com profundidade e liberdade da convocação de
um plebiscito por eleições diretas. Essa comissão será constituída na próxima
semana. O plenário buscará medidas que venham a diminuir gastos de campanhas.
Correio –
Como vê a divergência relativa votação dos vetos, surgida a partir de uma
liminar do inistro Luiz Fux?
Marcus
Vinicius – A Ordem
se coloca à disposição tanto do Supremo quanto do Congresso para dialogar uma
saída quanto ao tema. Em linha de princípio, é mais interessante para o nosso
país que tenhamos freios e contrapesos - a independência entre os Três Poderes.
A Ordem está á disposição para uma saída que prevaleça a força do STF de tomar
decisões judiciais, mas que também respeite a decisão legislativa de elaborar
leis e pô-las em vigor. Os dois Poderes, institucionalmente, deveriam dialogar
mais sobre uma saída consensual em torno do tema.
Fonte:
OAB – Conselho Federal, sábado, 16 de fevereiro de 2013 às 10:54
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